Na conceituação proposta pelos professores Michael Porter e Mark Kramer, referências internacionais nesta abordagem, em artigo publicado na Harvard Business Review, o valor compartilhado envolve a geração de valor econômico de forma a criar também valor para a sociedade – com o enfrentamento de suas necessidades e desafios. É preciso reconectar o sucesso da empresa ao progresso social. Valor compartilhado é uma nova forma de obter sucesso econômico. Não é algo na periferia daquilo que a empresa faz, mas no centro.
Essa nova perspectiva sem dúvida já estimula processos de inovação e deverá ser o centro da estratégia das empresas nos próximos anos. Um bom guia para empresas se aprofundarem no tema é o estudo “Grandes Oportunidades para as Empresas Quando Integram Assuntos Sociais aos seus Negócios”, lançado recentemente pela RedEAmérica – grupo do setor empresarial dedicado a qualificar e expandir ações empresariais para a promoção de comunidades sustentáveis na América Latina e no Caribe.
O documento – elaborado a partir da análise de práticas empresariais, ONGs, consultores e acadêmicos da Argentina, brasil, Costa Rica, Colômbia e México – é uma orientação para as empresas poderem incorporar a geração de valor social aos seus modelos de negócios, impulsionando sua competitividade ao mesmo tempo em que contribuem para a promoção de comunidades sustentáveis.
Em uma nova etapa deste estudo, a RedEAmérica irá sistematizar quatro práticas empresariais de destaque na geração de valor social a partir de estratégias diferenciadas – e bem-sucedidas – de negócio. Dentre os mais de 30 projetos avaliados pela organização, em toda a América Latina, foram selecionados quatro casos que serão estudados, sistematizados e divulgados como referências para o setor empresarial. Dentre os selecionados estão dois exemplos de empresas brasileiras: Nexa Resources e Fibria, ambas controladas pela Votorantim S.A.
O caso apresentado pela Fibria ajuda a entender como uma boa estratégia de valor compartilhado é capaz de combater um problema social ao mesmo tempo em que beneficia o bottom line da empresa. Após estudar o histórico de conflitos e os desafios sociais enfrentados pelas populações presentes nas suas áreas florestais, a companhia identificou que havia um grande contingente populacional cuja sobrevivência dependia do furto de madeira para a produção e comercialização ilegal de carvão. Ao invés de intensificar gastos com segurança e alimentar ainda mais o conflito, adotou como estratégia o diálogo e passou a oferecer capacitações e recursos (financeiros e produtivos) para as comunidades terem outras fontes de renda. A inclusão produtiva e a superação da situação de miséria mudaram a vida das comunidades e trouxeram como resultado para a empresa não só a redução dos prejuízos com a perda da madeira, mas também a oferta de novos prestadores de serviços e fornecedores competitivos e engajados em regiões estratégicas para o negócio.
O que está por trás deste exemplo de sucesso e da grande mudança que se desenha na relação dos negócios com a sociedade é a superação da ideia de que alguém só ganha se outro perder. Estamos trocando a lógica do “ou” pela lógica do “e”. Para os negócios prosperarem no futuro próximo, todos precisarão ganhar, a empresa, a sociedade e o planeta. A inovação tecnológica e também de propósito. Este movimento não é trivial ou simples, mas pode ser muito lucrativo. Vale sempre que se o desafio é grande, a oportunidade pode ser ainda maior.
Rafael Gioielli, gerente geral de Planejamento e Desenvolvimento da Atuação Social do Instituto Votorantim
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